Publicado 18/03/2020 13:30:47

O CENTENÁRIO DA “CASA LIBANEZA”

A colunista com D. Nair Abicalil na Casa Libaneza

Motivo de júbilo para a Colônia Libanesa de nossa cidade e para o comércio friburguense, o transcurso do centenário da “Casa Libaneza”, fundada pelo libanês José Jorge Abicalil, no ano de 1920.

Ele veio do Líbano para o Brasil, com o seu irmão Assef Abicalil, por volta de 1916, aconselhado, através de correspondência, por seu tio Said Abicalil (casado com D. Salime Gandur), aqui radicado, com uma loja de consertos e de aluguel de bicicletas, na Praça do Paissandu.

Os jovens irmãos libaneses foram para Duas Barras. José Jorge passou a mascatear. Montado num burrico, para sua locomoção, vendia os seus artigos, acondicionados num saco, a domicílio. Durante algum tempo, residiu em Macuco.

Uns três anos depois, veio para Nova Friburgo. Não demorando muito, ficou noivo da Srta. Haifa, filha do comerciante Nahum Bechara, fundador da “Casa Chaleira”, presenteando a noiva com uma máquina de costura “Singer”.

O casamento foi em 1920, e a “Casa Libaneza”, loja de tecidos e armarinho, fundada no mesmo ano, na Rua General Argolo nº 9 (atual Alberto Braune), no térreo de um antigo sobrado do Sr. Pio de Oliveira, hoje, Agência da Caixa Econômica Federal.

Ao longo dos anos, a loja passaria por vários endereços, sempre, na mesma rua: Nº 194 (futura Casa Nader); nº 262 (nas proximidades da atual Relojoaria Lanco); nº 35 (hoje, a Superlar). Neste último, a casa comercial ocupava a frente do imóvel e, nos fundos, residia a família. Como a moradia era ampla, contando com muitos cômodos, D.Haifa ali montou a sua Academia de Corte e Costura, muito conceituada, auxiliada por suas filhas Sofia e Nair (a filha mais velha, Nazira havia morrido, aos 15 anos incompletos, por vota de 1936, vitimada pela epidemia de tifo que grassava em nossa cidade).

D. Haifa havia se diplomado com Mme. Vianna, uma professora do Rio que vinha lecionar em Friburgo e suas aulas eram ministradas, no antigo Hotel Floresta, Rua Casimiro de Abreu, onde ficava hospedada. (Por esta época, o Sr. José Jorge instalou uma quitanda, também na Alberto Braune, em frente à residência de D. Elisa Sertã, hoje, Supermercado Extra).

A “Casa Libaneza” continuava prosperando, além dos artigos de armarinho e tecidos, a loja oferecia à clientela vestidos, saias, blusas, anáguas, quimonos, roupas infantis confeccionados por D.Haifa.

O imóvel era alugado. O proprietário Sr. Walter Cardoso, certo dia, pediu aos inquilinos que o desocupassem. O seu objetivo era demolir o mesmo, para edificar, no local, um prédio constituído de térreo (onde instalaria o novo “Bazar Friburguense”, que já funcionava na Praça Getúlio Vargas nº 198) e mais dois andares.

A mudança deveria ser feita, mas estava havendo dificuldade em encontrar uma loja que satisfizesse. Para não retardar a “entrega das chaves”, o casal Haifa/José Jorge resolveu levar o estoque da loja para a residência na Rua Ernesto Brasílio esquina da Av. Comte Bittencourt, alugada do Sr. Francisco dos Santos Madeira. Era uma situação incômoda, desconfortável para a família e prejudicial aos negócios, que perdurou por um bom tempo.

1º envelope da Casa Libaneza - 1920

Felizmente, no ano de 1950, o libanês José Alcuri, estabelecido com um amplo comércio, na Praça Getúlio Vargas esquina da Rua Monsenhor Miranda (atual Padaria Santa Isabel), gentilmente, cedeu parte do seu espaço (correspondente a duas portas) para o funcionamento da “Casa Libaneza”, na Praça Getúlio Vargasnº116-A. O referido imóvel pertencia ao Sr. José Villela, proprietário da Fábrica Sinimbu, na época, conhecida por Fabrica Villela, cujos descendentes o venderiam para os Abicalil, anos depois.  

Em 1956, faleceu o Sr. José Jorge Abicalil.  Além de comerciante, foi ele um pioneiro dos transportes urbanos em Nova Friburgo, nos primeiros anos da década de 1930. As suas populares “jardineiras” ou “peruas”, pequenos ônibus, abertos dos lados, circulavam pelos principais pontos da cidade. 

A viúva, D. Haifa, ficou à frente da loja até 1958, quando já se sentindo cansada, pensou em encerrar as atividades. Contudo, a filha Nair Abicalil de Moura, casada com o comerciante Genserico de Moura, de Rio Bonito, conseguiu convencê-lo a vir para Nova Friburgo e, assim, assumiram a “Casa Libaneza”. D. Haifa ainda viveu até o ano de 1972, falecendo aos 72 anos de idade. 

D. Nair, 96 anos, continua presente na loja - que conserva as características do passado- confeccionando, em sua máquina de costura, variadas peças para o seu comércio. Muito ativa, viúva, conta com o apoio dos filhos: Luís Eduardo, engenheiro civil, que chegou a exercer a sua profissão por uns vinte anos; Eliana, professora aposentada; Mariza, que fez curso de turismo.   

Os demais filhos do casal Haifa Bechara Abicalil /José Jorge Abicalil já são falecidos: Sofia casada com Nelson Belmiro da Silva; Elias e Roberto, bancários; Jorginho, publicitário. Todos se casaram e deixaram descendentes.                                                 

A “CASA LIBANEZA” é como o CEDRO DO LÍBANO, símbolo de força e de eternidade.    

Atual Casa Libaneza na Praça Pres. Getúlio Vargas,120

Comentários

Angelo Cezar Jachelli 19/03/2020 22:56:52

Muito emocionante te participado desse passado, tendo conhecido e convivido com alguns personagens. Parabéns pela reportagem.

VERA LUCIA portas beck 19/03/2020 22:26:05

a história da família foi muito linda e bem contada. Sou sobrinha de Gencerico,e minha mãe, Pedrina, contava estas estórias para a gente,no passado

Gekyara Wernek 19/03/2020 21:16:38

Linda homenagem a casa Libanea. Valorizando os imigrantes que com muita luta e coragem ajudaram construir nossa cidade. Parabéns aos imigrantes ,símbolo de força e perseverança.

Izabel Miller 19/03/2020 20:33:23

Adorei conhecer a história da Casa Libanesa e família. São super simpáticas e atenciosas. Que a Casa continue prosperando para que a história continue... Parabéns!!!

Luiz. Deccache 19/03/2020 19:55:56

Como são valorosos esses descendentes de libanezes, que tanto dignificam a raça de um povo laborioso. Minha profunda admiração e respeito a essa guerreira incansävel, Dona Nair Abicalil de Moura. Luiz Deccache.

Lilia 19/03/2020 17:52:27

Gostei muito da historia, super interessante Parabéns !!!!

Fausto 19/03/2020 14:26:28

Em primeiro lugar, parabéns para a Casa Libaneza, talvez o último vestígio que sobrou da NF dos "meus tempos". A senhora fala de um Hotel Floresta, mas é curioso que o Hotel Floresta que eu conhecia, e no qual fiquei até hospedado no final dos anos 70, ficava em outra locação, na rota que levava ao Olifas. De acordo com o Google Street View, ele, o hotel, ainda está lá. Um abraço.

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