O Cine Marabá

Certa ocasião, tive a oportunidade de entrevistar a saudosa Sra. Zenith Macedo Vassallo, a Dona Zazá, viúva de Mário Vassallo, um dos proprietários do Cine Marabá, a respeito das origens do citado cinema. Gentilmente, e com riqueza de detalhes, ela me narrou:
O Cine Marabá foi inaugurado no dia 28 de janeiro de 1950, domingo, às 12,00 horas, na Rua Leuenroth nº29, ocupando parte do terreno, onde, num prédio espaçoso, havia funcionado o tradicional Hotel Leuenroth e, posteriormente, o Colégio Modelo.
Os seus proprietários eram os irmãos Mário, Rubem e Felício Vassallo (filhos do italiano Domingos Vassallo e de sua esposa Dona Dorfilha Eyer Vassallo), o primo Reynaldo Eyer, e os amigos Ulisses Ennes, Antônio Cabral, Clarindo Carestiato e Alfredo Karl.
A ideia da construção de mais um cinema para a nossa cidade surgiu, certa vez, quando estes amigos conversavam, à sombra dos eucaliptos, em nossa praça principal.
O nome Marabá foi sugerido por Ulisses Ennes e, por unanimidade, aprovado pelos demais. O grupo de idealistas adquiriu, por compra, o terreno da Rua Leuenroth, de propriedade do Sr. Leal Santos que ali tinha um pequeno parque de diversões, com uma barraca de tiro ao alvo. Muitos foram os sacrifícios e as dificuldades surgidas durante o período de construção do prédio, mas a união dos oito sócios a tudo resistiu.
Foi portanto, com justa alegria, que viram a inauguração de sua casa de espetáculos, com um filme francês, naquele verão de 1950. Porém, outros problemas eles iriam enfrentar, principalmente, a falta de filmes. Isto porque, o proprietário do Eldorado, que estava no ramo há quase dez anos, tinha contratos de exclusividade com as grandes companhias cinematográficas, para a exibição dos lançamentos e grandes sucessos.
De início, o Marabá tinha de se contentar com velhas fitas de Carlitos, do Gordo e o Magro, de Mazaroppi e com filmes franceses, quase sempre proibidos até 18 anos, considerados indecentes para os rígidos padrões morais da época.
Naquele tempo, "a sétima arte” era a maior diversão do povo; Hollywood, a capital mundial do cinema; no firmamento da glória, brilhavam atraentes astros e sedutoras atrizes; as companhias cinematográficas proliferavam, em todo o mundo, pois tinham lucro garantido.
Com esta avalanche de filmes, em menos de dois anos, surgiu para o Marabá, também, a oportunidade de exibir películas memoráveis como “O Morro dos Ventos Uivantes”, "Tarde Demais para Esquecer”, "Marcelino, Pão e Vinho”, “O Balanço das Horas” (com Elvis Presley), "Sindicato de Ladrões” (com Marlon Brando), “Carmen" (com Rita Haywort), “Miguel Strogoff”, "Stromboli” (com Ingrid Bergman), a reprise d’ “E...O Vento Levou”, os três da série “Sissi, a Imperatriz” e muitos outros.
Na época, era muito comum alugar-se o cinema para benefício de alguma casa de caridade ou de qualquer finalidade filantrópica.
Foi assim que, ao concluir o Curso Científico no Colégio Modelo, a minha turma alugou o Marabá, a fim de ajudar no custeio da festa de formatura. Na ocasião, foi exibido o filme “Escrava de uma Lembrança”, com Jane Russel.
Com o passar dos anos, a vida iria separando os sócios. Primeiro faleceu Ulisses Ennes, depois, Mário Vassallo, assumindo seu lugar a viúva Zenith Macedo Vassallo. Clarindo Carestiato deixou o Marabá para fundar os seus próprios cinemas: o “São Clemente” (em Olaria), o "Sant’Ana”(no Cônego), o “São Luis” e o “São José” (ambos no Centro).
Enquanto pensava-se que o cinema não conheceria rival, no campo da diversão, uma corrente, aos poucos, iria crescendo até suplantá-lo: a televisão.
Os antigos frequentadores preferiam o aconchego e a comodidade do lar, do que as imensas salas de projeção dos cinemas. Foi a decadência do período áureo do cinema, em que muitos fecharam as suas portas.
Aos poucos, os antigos proprietários iam falecendo. Os que restavam e os herdeiros resolveram vender o Marabá para o Sr. Antônio Moretti, em 1986, que ali instalou a sua casa comercial, Mac-Still. Três anos depois, era vendido a Heder Carestiato.
No ano de 1991, o prédio do antigo Cine Marabá foi demolido e, no seu lugar, seria construído um suntuoso edifício, o Ed. Antônio Carestiato.
Dele, agora, só restam muitas lembranças, algumas fotos que, em breve, estarão amareladas pelo tempo, e uma placa de bronze comemorativa da apresentação do ator Rodolfo Maia, na famosa peça “As Mãos de Eurídice”, em fevereiro de 1952.
Mais uma página virada na história da arte e da diversão em Nova Friburgo. Lamentável e nostálgico.

Comentários
Não, vivi essa época, mas deu uma certa nostalgia ao ler. Isso se deve a riqueza de detalhes e dados importantes da época
Não, vivi essa época, mas deu uma certa nostalgia ao ler. Isso se deve a riqueza de detalhes e dados importantes da época
Leyla , Parabéns ! E obrigada pelo resgate da história de nossa cidade que nos fazem recordar tempos felizes.
Delicioso artigo que me fez viajar no tempo. Assisti a \"Dio, Come Ti Amo\" e acho que também \"Os Girassóis da Rússia\"lá. Casa de exibição ampla que o tempo levou para nunca mais devolver...
Delicioso artigo que me fez viajar no tempo. Assisti a \"Dio, Come Ti Amo\" e acho que também \"Os Girassóis da Rússia\"lá. Casa de exibição ampla que o tempo levou para nunca mais devolver...