O FOGO QUE NUNCA SE APAGAVA

Na minha infância, era para mim - e acho que para as demais crianças- motivo de admiração e de espanto, uma chama que nunca se apagava, crepitando a qualquer hora do dia e da noite. O palácio sagrado que abrigava tal fogo misterioso, visto pela janela, de um de seus muitos cômodos, ficava no, então, longínquo bairro de Duas Pedras.
Era a Fábrica de Carbureto, nome popular da Companhia Industrial Friburguense, constituída em 22 de abril de 1924, situada na Rua Prudente de Moraes, 188, cujo fundo do terreno era a margem do Rio Bengalas (naquele tempo não havia a Av. Costa e Silva e, hoje, ali se encontra a Agência Frivel). Tal indústria tinha por finalidade a exploração e manufatura de produtos eletrotérmicos e eletroquímicos em geral.
O Carbeto de Cálcio ou Carbureto de Cálcio -o popular Carbureto- era empregado em lampiões domésticos, em lanternas em geral e, até, nas antigas lanternas de bicicletas. A partir do Carbureto é obtido o Gás Acetileno usado em soldas, cortes de metais por maçarico, na fabricação de objetos de vidro e na produção de borracha sintética.
Com o desenvolvimento da empresa, em 1941, ela passa a se denominar Companhia Industrial Friburguense de Produtos Químicos, aumentando o seu capital para mil contos de réis. Seu principal acionista era o empresário da construção naval, o engenheiro Henrique Lage que, por longo tempo, ocupou o cargo de Presidente da Companhia, residindo com sua esposa, a cantora lírica italiana Gabriella Besanzoni, num palacete no Parque Lege, no bairro do Jardim Botânico, no Rio.
Ele era o proprietário de um importante estaleiro, na Ilha do Viana, que utilizava o Carbureto processado na Cia. Industrial Friburguense para a sua iluminação. Segundo o historiador Carlos Wehrs, autor de “NITERÓI, ontem e anteontem”, o avô de Henrique Lage, o Sr. Antônio Martins Lage adquiriu a referida ilha, por volta de 1840 (após a morte trágica do antigo proprietário, o Conde de Gestas) numa rifa, cujo bilhete custou dez mil reis, sendo ele o premiado.

Um ano após a morte de Henrique Lage , pelo Decreto-Lei nº 4648 de 2-9-1942, a Cia. Industrial Friburguense de Produtos Químicos e mais 28 empresas, da chamada “Organização Lage, foram incorporadas ao patrimônio nacional. Dentre elas: a Cia. Nacional de Navegação Costeira, o Lloyd Nacional S.A., a Cia. Nacional de Mineração de Carvão, a Sociedade Brasileira de Cabotagem, a S.A. Gás de Niterói, a Refinaria de Sal ITA (a primeira do Brasil), etc.
À Companhia Industrial Friburguense de Produtos Químicos, pelo Decreto-Lei nº 36534 de 3-12-1954, assinado pelo Presidente Café Filho, foi outorgada a concessão para o aproveitamento de energia hidráulica das corredeiras existentes no Rio Grande, em Riograndina.
No final dos anos 50, início de 60, a misteriosa e popular Fábrica de Carbureto chegava ao fim. Apagava-se, assim, o fogo que a criançada julgava ser eterno. No seu lugar, já em 1964, funcionava com muito sucesso, a USABRA- Indústria e Comércio S.A. - especializada em fabricar o que havia de mais moderno, na época, móveis de fórmica. Tudo era revestido de fórmica: móveis de sala, de copa, de cozinha, de quarto. O nome Usabra era um orgulho para os friburguenses, reconhecido em todo o Brasil, levando a crer que funcionaria, por inúmeras décadas, mas encerrou suas atividades, no final década de 1970.
Hoje, só resta parte do imponente imóvel que abrigou, outrora, indústrias tão importantes.

Comentários
Sou estofador em Curitiba, peguei 4 cadeiras para reformar Com os selos da época pena que rasurado.foram fábricada por está empresa a Usibra ano 1953
Um pedaço muito importante da História de Nova Friburgo e do Estado do Rio de janeiro. Pesquisa profunda e perfeita. Parabéns!
Leyla, Parabéns por nos mostrar um pouco da bela historia de tanta importância para nova Friburgo. Para min que cheguei depois foi muito engrandecedor.