UMA RUA, VÁRIOS NOMES, ALGUMAS HISTÓRIAS III

Chegando ao fim da Rua da Campesina, é o momento de retornar, pelo lado ímpar. Na esquina com a Av. Comte Bittencourt, nº 89, um terreno baldio, sem muro, coberto por uma vegetação rasteira. Uma lavadeira, que morava nas imediações, e mais algumas senhoras quaravam as suas peças de roupa, durante todo o dia, naquele local (numa época em que não existia sabão em pó). Ao serem recolhidas, à tardinha, não faltava peça alguma. Ao lado, um sobrado geminado, com duas moradias, de números 85 e 81.
No ano de 1942, houve uma confraternização de atiradores de todos os Tiros de Guerra do antigo Estado do Rio de Janeiro, e como a residência de nº85 estivesse vazia, serviu de alojamento para um grupo deles. Nesta ocasião, foi inaugurada a sede do Tiro de Guerra 218, na Praça do Suspiro, com as presenças do Interventor Ernani do Amaral Peixoto, de sua esposa Alzira Vargas do Amaral Peixoto e do Gal. Jansen de Mello (conforme relato do saudoso Waldyr Saldanha, da Turma de 1942). Na casa 79, durante a década de 40,várias famílias ali residiram, mas a que morou por mais tempo foi a da Sra. Isabel Ornellas. Havia sido construída pelo antigo Ministro Vianna do Castelo para "temporadas de verão" e o povo a chamava de "caixa de fósforo".
A residência de nº 71, de propriedade do Dr. Salim Lopes. No sobrado, morava com a sua família e, no térreo, o seu consultório médico, instalado desde 1932. A família de Antônio Soares Macedo ocupava a casa de nº 67. A esposa Dª. Adélia Cunha Macedo e o filho mais velho, Arlindo (Moreno), eram os responsáveis pelo restaurante da Estação Ferroviária, famoso pela excelência de suas iguarias. No amplo imóvel de dois pavimentos de nº 63, ocupado pela família de Nicomedes Araújo, uma das filhas, a Elaine, morreu vitimada pela tuberculose, aos 15 anos de idade. Na casa de nº 61, nos fundos de um corredor, a família de Cândido Pereira, o"Seu"Candinho. A seguir, mais um imóvel geminado.
Na moradia de nº 59, a familia João Batista Duarte. Ele era proprietário do Bazar São João, com a sua filha, a Maria. O bazar ficava na Alberto Braune, em frente à residência de Dª Santinha Sertã, atual Hipermercado Extra. O "Seu" João era um senhor idoso, magro, alto,com óculos na ponta do nariz, lembrando Gepeto da estória de Pinóquio. O seu bazar vendia artigos de armarinho, bibelôs, panos de cozinha riscados para bordar, miudezas e brinquedos: bonecas de papelão e de celulóide vestidas de papel crepom, panelinhas, aviões e carrinhos de folha de alumínio, bolas de gude, petecas, piões, etc. A vitrine era um armário envidraçado pintado de verde.
A de nº 55, geminada com a 59, ocupada pela família de Antônio Rodrigues de Freitas, o "Pamparrão", construtor de ambas . (A primeira seria demolida a partir de 5 de agosto de 1992, para dar lugar a continuação da Rua Prefeito José Eugênio Muller). Ele, também, foi o responsável pela construção do conjunto de casas de aluguel, ao qual deu o nome de "Vila Nova", no início da Rua Prudente de Moraes, Duas Pedras. Carlos Alberto Braune, o "Carlito Braune", residia num amplo sobrado, de nº 47, com sua segunda esposa, Dª. Liomar, e seus filhos Yvo e Yvone. Era inquilino de José Monteiro o "Juca da Chevrolet", que comprara o imóvel do libanês Kassabe, proprietário do prédio, antes da instalação da Casa de Saúde Nova Friburgo (nº26). Na moradia de nº 43, a família Francisco Nicolau, e na de nº 31, a família de Albertino Costa, casado com Dª. Alice Nunes Pinto (Restaurante Marley). Pedro Knust, sua esposa Da. Ruth e seus filhos viviam felizes na casa de nº 29 (Redação d' A Voz da Serra"), até que, numa manhã de domingo, a tragédia se abateu sobre a família. Uma bola rola para a rua, um dos meninos correu para resgatá-la, sendo atingido, mortalmente, por um carro. Dona Adelina, conhecida pela sua habilidade, em confeccionar colchas de crochê, morava com a família, nº 25. Um dos seus filhos, Arthur Nilton Soares de Andrade, na década de 50, ficaria famoso, no futebol amador local, como " Rapadura".
No nº 21, funcionavam a redação e a oficina do jornal "O Nova Friburgo", de propriedade do jornalista Pedro Cúrio. Certa tarde, eu vi um cortejo parado, diante do citado jornal. Era o enterro de um rapaz que, na madrugada anterior, fazia uma serenata, quando foi inter rompido por uma bala assassina. Aquele protesto era uma exigência, para que a imprensa noticiasse o ato de covardia, e a justiça fosse feita. O criminoso A. de S. alegou que matara a vítima, porque teve o seu sono perturbado. Um depósito de álcool e bebidas, de propriedade do Sr. Prudêncio Cardoso, funcionava no nº 17, enquanto o Sr. Januário Caputo construia a sua residência no nº 15. Prosseguindo, no nº 9,funcionava a quitanda do Sr. Joaquim Pinto, e na esquina da Alberto Braune (hoje, Sapataria Rex), o sortido e amplo armazém do Sr. Magalhães. Assim, com muita saudade e emoção,concluo meu longo passeio, pela Rua da Campesina, na década de 1940, mas seus mordores e suas histórias continuam vivos, em minha memória.
Comentários
Sou bisneta do Sr. João Batista Duarte e gostei muito de ler o seu artigo. Fiquei triste em saber que a casa do meu bisavô foi demolida, e dar lugar a duas lojas. Memórias que se perdem em Nova Friburgo.
Adorei as historias que saudades.
LEYLA, VOCÊ SEMPRE PERFEITA EM TUDO QUE FAZ. PARABÉNS AMIGA!!!!